terça-feira, 8 de junho de 2010

O começo da história - Parte II

A vida com um só seio
Cheguei a pensar que não estava fazendo a menor diferença, só alguns anos depois me toquei que estava na maior deprê, chorava no meio do dia no trabalho, mas sempre achava algo pra justificar. Talvez não tenha encarado como realmente era o fato, uma amputação.
Pior foram as visitas aos cirurgiões plásticos pra decidir qual seria o eleito!
O primeiro devia ter uns 80 anos, as paredes do consultório repletas de diplomas, um deles acho que era de membro fundador da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (ou algo assim). Renomado, entrou na sala tropeçando na porta e derrubando vários papéis ao sentar à mesa. Eu e minha tia nos olhávamos imaginando a pessoa com um bisturi na mão, perto do meu peito (ou do lugar onde deveria estar). Explicou-me toda a técnica de reconstrução. Eu devia engordar um pouquinho, afinal a pele seria retirada da minha barriga, assim como o músculo abdominal que seria “transferido” (temos uma certa reserva nessa região, que permite uma pequena retirada) para forrar o peito novo, já que até músculo peitoral tinha sido removido na cirurgia. Depois de uns meses, a segunda etapa: silicone.Bom, saí do consultório meio intrigada, sabia que o filho do cirurgião também participaria da cirurgia, o que não me tranqüilizou o suficiente, afinal, ninguém me apresentou o tal filho.
Tudo bem, vamos conhecer o próximo da lista. O consultório não era exatamente o que se espera de um consultório de cirurgião plástico ( no mínimo, uma estética interessante). Quando entro na sala, dou de cara com um aparente caminhoneiro (camisa aberta e suado_ sem preconceito nenhum contra eles, mas não é bem essa aparência que se espera de um cirurgião plástico, que trabalha com a aparência). Enfim, a consulta foi bem “animadora”, ele começou falando de todas as complicações possíveis da minha cirurgia e completou ilustrando com fotos (naturalmente, bem desorganizadas, tiradas de uma gaveta, num montinho, mostrando mulheres desacordadas e razoavelmente danificadas). Depois, logicamente ele e aquele bafinho insuportável foram me examinar. Saí da consulta chorando desesperadamente (minhas lagrimas já estavam dando sinais de que iriam se esgotar, assim como a água do planeta, abundantemente utilizada!). Isso era o que meu convênio me proporcionava.
Com toda essa situação, minhas tias me levaram a um cirurgião plástico de verdade. O consultório já era um negócio, decorado pelo João Armentano, as pacientes (ou clientes) pareciam saídas das paginas de um editorial de revista de moda. Chamaram meu nome, entrei na sala, não sabia se olhava a decoração (impecável) ou o moço (igualmente impecável). Enfim, alguém que me compreendia! Ele foi super atencioso, cuidadoso, só me mostrou fotos de antes e depois (nada do inevitável durante). O único problema: da pra imaginar o preço do dito cujo. Diante da situação, a família (sempre alerta) resolveu intervir, uma vaquinha (vacona!!) resolveu o problema!!
Até os dias da cirurgia andei meio mal, achava que eu deveria pagar minha própria cirurgia (o que era impossível) com o adorável cirurgião. Por outro lado, não tinha coragem de ficar apagada na mão de outro. Achei que era isso que me consumia, além do fato de que meu casamento não andava bem. Foram dias difícies, mas logo chegou o dia da primeira etapa da reconstrução.
Eu repaginada
Voltei então para aquele hospital onde eu via meu antigo apartamento. O impecável cirurgião não costumava fazer cirurgias lá, mas acho que se compadeceu e resolveu abrir uma exceção. Fotinhas antes da cirurgia e vamos pra maca, acordar com o peito de volta! Oba! O único problema é que me contaram que durante a recuperação, quando eu voltava da anestesia geral, comecei a chamar a enfermeira do médico velhinho, que, coincidentemente, estava trabalhando lá aquele dia. Não ficou nada bem pra mim! Mas tudo bem, lá estava eu, voltando ao normal, depois do fim do tratamento. Ainda faltava o silicone para os seios se igualarem, mas tudo bem, já tava melhorando!! Aquele sutiã com enchimento do lado esquerdo ia direto pro lixo. Mentira, ficou pra minha avó que também teve câncer de mama e não fez reconstrução pois já estava com 70 anos e não ligava mais pra isso. Não liga até hoje, com 89 anos.
A recuperação dessa cirurgia foi um pouco complicada, um mês em Campinas, andando igual um anzol, me enchendo de Lizador e assistindo filmes. Dormindo em uma só posição, não agüentava mais não poder virar de lado, mas como tudo passa, esse mês também passou.
Uns quatro meses depois passamos à segunda parte da reconstrução: silicone e tatuar o bico do seio esquerdo. Isso tudo foi mais tranqüilo, aconteceu na super clinica bonita com uma galera bem simpática me auxiliando. Quanto ao resultado, fiquei bem satisfeita, uma barriguinha de fazer inveja às top models e os seios que nunca teria de outra forma, depois de duas amamentações.

3 comentários:

  1. Ahh, quer dizer q a recuperação da plástica foi um pouco difícil, é? Pois ñ foi bem isso q vc me disse, palhacinha...rs Ok, se vc tivesse me dado detalhes, acho q ñ teria operado... rs
    Bjoks

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  2. Ai Má, que coisa linda! dividir suas intimidades, suas alegrias, suas angústias, tanto com quem te ama, com quem nem te conhece. Ah! Tanto tempo estamos juntinhas, e sei que mesmo brigando por causa de alicates e coisinhas, consigo expressar o tamanho do amor que sinto por vc!!! Me emocionei e até tive vontade de atravessar a rua pa te abraçar e chorar dizendo: Vai passar eu juro que vai!!!! como dizemos a um filho que ta com febre....Amo vc e quero estar sempre ao seu lado minha querida!!!
    Carol

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  3. Má... nunca duvidei que vc era uma guerreira...em todos os momentos de sua vida.
    Amiga, vc já sabe bem, mas vale sempre lembrar: Eu te amo muito...vc sempre foi e será para mim como a irmã que eu nunca tive...lembra quando eramos criança, muitas vezes me sentia mais sua irmã que do Peter e do Anderson.
    Sempre estarei aqui ou em qq lugar do mundo torcendo muito pela sua felicidade.
    Mto beijos

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